[ MVP ] Yelena L. Zaltana

Aquela era uma noite estranha, embora fosse bela. A jovem Yelena revirava sentimentos do passado, com visível irritação e frustração. Sua mente tentava solucionar um problema que a aterrorizara no passado e agora a importunava no presente; queria saber o que acontecera com aquele que tornara sua vida um inferno e tentava lembrar-se de como se livrara do mesmo, mas nada lhe ocorria, causando-lhe uma tremenda confusão de sentimentos ruins.

A mudança foi quase imperceptível. De fato, ninguém nunca percebia quando isso acontecia; não até se tornar alvo da mudança. Yelena desenvolvera uma segunda personalidade no tempo que passara nas garras do tio, basicamente um escudo de proteção; Yelena se tornava incapaz de sentir qualquer sentimento de piedade e misericórdia sempre que o tio a torturava, mandando-a fazer algo que ela sequer tinha ideia de como. E quando tudo acabava, Yelena não se lembrava de nada do que acontecera durante sua sessão especial. Isso tornou mais fácil suportar a dor.

Havia mais de dois anos que sua parte defensiva não assumia o controle; mais de dois anos desde que ela mesma matara o tio e fugira; mais de dois anos que ela era feliz com o pai. Mas a visita inusitada do fantasma do tio a perseguira até ali, deixando-a confusa; com medo. E agora ela precisava contentar sua parte que pedia vingança. Mas o que tinha mais para vingar? O tio já estava morto.


O caminho para a arena foi rápido. Quíron a recebeu, perguntando se estava pronta; ela lhe sorriu em resposta, mas o centauro não pode perceber o brilho assassino que se acendia em seus olhos. Na arena um ser voava de um lado ao outro e Yelena não o reconheceu, mas conseguiu avistar a arma e a proteção da criatura. O sorriso maldoso que lhe moldava o rosto batalhava com o sorriso contido de Yelena, mas que demonstrava a mesma maldade; até mesmo um pouco de crueldade.

Yelena esperou por algum movimento, sem querer denunciar qualquer arma que carregava consigo; pelo menos o elemento surpresa poderia lhe render um tempo para descobrir como derrotar o desconhecido.

Observações:

Yelena não teve tempo para desviar do ataque da criatura. Seu erro foi concentrar-se demais em um possível ataque da lança que não pensou que o monstro fosse voar em sua direção e chutar-lhe o rosto. O impacto foi o suficiente para lhe jogar ao chão, o escudo transparente ainda posicionado sobre suas costas. A prole de Melinoe lamentou-se pela blusa nova ao rolar pela terra, saindo do limite de alcance do monstro.

Colocou-se de pé e desamarrou com agilidade uma das tiras que suspendia o escudo sobre seus ombros, posicionando-se rapidamente em posição de ataque. Ainda não estava na hora de revelar mais alguma arma, de modo que um sorriso calmo projetou-se no rosto ao fitar a posição da criatura, há uns cinco metros de distância e alguns centímetros longe do chão.

Diferente da única vez que lutara de verdade, um arrepio cruzou-lhe o corpo; deixando-se mentalmente calma, observou minuciosamente todas as chances de ataque e defesa. Podia arriscar-se aproximar da criatura e contar com sua velocidade para deixá-la cansada, mas abandonou a ideia no mesmo instante; nada sabia da criatura, não podia arriscar aproximar-se. Observou como a armadura do monstro - ou deveria chamá-la de mulher? - lhe cobria o tronco, mas deixava exposto seus braços e pernas. Visualizou um ataque, uma aproximação lenta, mas precisa, enquanto sua mão iria de encontro à bainha presa a coxa, acessível por um rasgo no bolso da calça; o canivete logo estaria em suas mãos e o simples pensamento o transformaria uma espada de longo alcance, de aço. Fintaria a coxa direita do monstro, na tentativa de cortá-la onde estava exposta quando, na verdade, usaria a espada para golpear o braço que segurava a lança.

Yelena usou preciosos segundos para pensar nisso; a decisão de atacar foi tomada tão rápida quanto a formação da estratégia.

Observações: