{MvP} Margot W. Furtwängler

- Yelena não passava de mais uma semideusa fraca e encostada.  – As pequenas bolinhas azuladas reviravam-se, logo sendo ocultadas momentaneamente pelas pálpebras esbranquiçadas. – Em seu primeiro desafio rendeu-se à morte. – Tinha em seu tom uma leve pitada de irritação por conta do ocorrido que abalava o chalé de Melinoe desde os últimos dias. Margot não se deixava abalar por uma morte, muito menos a de uma meia-irmã.

Sob seu corpo a superfície gélida e rígida lhe proporcionava arrepios involuntários. Ali haviam inúmeras fotos antigas de sua família, todas em preto e branco e, contando a história de um clã totalmente leal ao Nazismo. Talvez, devido a esta herança o coração da loira fosse tão inclemente, tão duro consigo mesmo. Ali não havia espaço para o disseminar do amor, somente pouquíssimas pessoas eram presenteadas com os sentimentos mais puros da jovem, porém se a decepcionassem dariam fim aos seus fragmentos humanos.

Entretanto, o ódio de si mesma prevalecia em seus sentidos, pois ser tão fria e amarga a entristecia profundamente. Apenas tinha vontade de arrancar as partes ruins de seu passado, deixando as boas e semeando as mais afáveis parcelas de sentimentos.

Deixou que os dedos deslizassem pela superfície que cobria o solo, agrupando as fotografias em um maço de memórias. As guardou dentro de um pequeno baú alemão e tornou a levantar-se de seu antigo “assento”, dirigindo-se à prateleira principal de seu quarto.

Decidida a aprimorar seus dons divinos, a prole de Melinoe caçou por debaixo de sua cama as armas que a ajudariam, sendo uma delas a lança e o escudo fantasmagórico. Após recobrir seu corpo com um jeans gasto, uma camiseta simples e uma blusa xadrez de botões aberta sobre o tecido rente ao seu tronco, a jovem envolveu o antebraço canhoto com seu escudo, sequer aparentando ter algo ali devido à invisibilidade do objeto.

A lança, por sua vez, era envolvida pelos dedos destros de Margot, fechando-os em punho em torno do objeto invisível ao olhar dos outros. Seus olhos apreciavam o material exótico utilizado para a fabricação da arma que ganhara de sua mãe, ela era perfeita, pois poderia se tornar qualquer outro tipo de arma que desejasse.

Desse modo, a loira ausentava-se de sua casa, indo de encontro à brisa daquela tarde de feixes alaranjados vindos do Sol. Os fios dourados balançavam-se incansavelmente à medida que os passos sobre coturnos eram dados em direção a Quíron, o velho gritava pelo nome de significado delicado e sereno demais para alguém tão rude.

O centauro encontrava-se em frente aos portões da arena, acompanhado por um semideus em estado deplorável e totalmente ferido. Mal pode controlar a expressão de desprezo que tomava sua face pouco a pouco, enquanto seu olhar era direcionado aos ferimentos dispostos pelo corpo do jovem.

Não demorou muito para que as palavras explicativas e secas fossem proferidas pelo centauro. A única coisa que pode fazer fora assentir e concordar com as instruções dadas por ele, afinal não havia saída, ela teria de enfrentar o tal lobo.

Logo, os passos passavam pelo vestíbulo dos portões, adentrando assim a arena onde estaria seu mais novo adversário. Era irônico o fato de que o outro estava ferido e ela – que não tinha absolutamente nada a ver com o que aconteceu – ter de limpar a bagunça e exterminar o agressor. Semideuses foram feitos para isto, afinal.

Assim que a análise da figura negra fora feita pelos olhos repletos de arrependimento, a menina fora tentada a dar meia volta e retornar ao seu chalé. No entanto, caso desistisse estaria se igualando a Yelena e, certamente, não era como sua irmã que Margot desejava ser.

A criatura aparentava ter o dobro da altura da semideusa. De olhos vermelhos como rubis lapidados, o lobo emitia seu uivo, estremecendo tudo ao seu redor em declaração ao início de uma nova batalha, de onde definitivamente não sairia vivo, não se dependesse da força de vontade da loira.

Imediatamente fechou seus olhos, pressionando suas pálpebras enquanto seus lábios moviam-se em invocações fantasmagóricas, clamando para que desse certo a ideia que tinha de trazer um espírito para assustar o oponente. Desse modo, teria uma chance de correr pela lateral do animal, podendo atacá-lo pelo lado. Caso não desse certo, a menina jogaria sua lança invisível na direção do animal, afinal ele viria para cima de Margot, tendo grandes chances de ser atingido, tecnicamente. Seu escudo estava à frente de seu corpo, pronto para a defesa. os pés ligeiramente afastados, o esquerdo á frente do direito.

AFINS:

- Bom trabalho, queridinha. – Sádico e repleto da satisfação por ver o sangue de seu inimigo vir à tona, o sorriso de Margot se instalava no canto de seus lábios. Os olhos formavam linhas estreitas, semicerrados para que a visão de fato fosse ainda mais nítida, afinal desejava apreciar as pequenas gotículas transformando-se em um sangramento hemorrágico.

A lança invisível retornava ao seu devido lugar e, o entusiasmo era exibido em meio ao olhar lançado à arma, aquela pelas quais palavras de elogio haviam sido proferidas anteriormente. Pode sentir o poder acelerar seus batimentos cardíacos, assim como ver os resquícios do sangue canino em aparente levitação a fizeram sorrir, em um deleite por seu primeiro golpe efetivo.

Contudo, a loira não deixou de manter sua posição de defesa, continuando a ter o pé esquerdo à frente de seu direito, com ambas as pernas ligeiramente afastadas. O escudo prolongava o tempo em defesa da maior parte do corpo de Margot, mesmo que não existisse nada à visão dos outros.

Em um súbito ataque, a herdeira dos espectros era empurrada para trás, tendo a pata frontal – em perfeito estado – da criatura contra seu escudo. As costas colidiam-se contra o campo de batalha, espalhando uma dor por toda a coluna da menina, a qual tinha em seu rosto uma careta de dor.

No entanto, os olhos percebiam a aproximação vagarosa do animal, que por sua vez mancava enquanto deixava rastros de sangue por onde passava. As garras e dentes afiados a fizeram procurar forças para sair dali, para que não acabasse como sua irmã, morta em apenas poucos minutos de batalha.

Desse modo, percebeu que por sua estatura e a leveza de seu corpo poderia conseguir desviar das patas do lobo, assim procurou impulsionar seu corpo para o lado oposto ao que ele estava vindo, tendo a intenção de rolar e se pôr de pé nesse meio tempo. Entretanto, caso não desse certo, a menina usaria a lança para se defender dele, como esta era invisível, poderia feri-lo sem que ele sequer percebesse a presença de uma arma.

AFINS:

- Vamos lá, lobinho. Isso aqui só está começando. – O tom desafiador que a loira utilizava ao se comunicar com a criatura a fazia adorar cada vez mais a aventura onde se metera. Graças à Melinoe a menina conseguira rolar e ficar novamente de pé, voltando a ter o pé direito à frente de seu esquerdo e a manter a posição de ataque caso a criatura ousasse se aproximar ainda mais.

A Lança era segurada com ambas as mãos, ligeiramente afastadas e firmes ao redor do instrumento invisível. O escudo, por sua vez, era forçado a estar em frente ao corpo de Margot, já que estava preso ao seu antebraço em seu comum estado de invisibilidade. Naquele momento, os olhos curiosos notaram que os céus eram abraçados pela escuridão, tendo ali o início da noite em que seu poder seria mais evidente.

Ofegante, Margot se manteve em seu lugar, não ousando se mexer ou sequer dar um pio. Alguns fios de seus cabelos pairavam sobre seu rosto, por cima dos lábios e do nariz, assim como de um de seus olhos. A respiração afastava os intrusos que caíam sobre seu rosto, os movendo involuntariamente enquanto a proximidade da criatura se fazia presente.

Círculos de pegadas eram criados ao redor da herdeira de Melinoe, a qual significava o centro de uma circunferência. O coração acelerava conforme os uivos se faziam presentes ali, o único som que seus ouvidos podiam ouvir e o que podia sentir era a fome que ele tinha por ela, como ele queria devorá-la.

Margot, então, procurou mirar a lança invisível nas direções que o lobo seguia, sempre estando apontada para ele sem que o mesmo visse, o corpo girava sobre o próprio eixo, tentando seguir corretamente os paços daquele ser.

Contudo, o avanço alheio não fora evitado, porém como a lança tentava sempre seguir o lobo, esperava que essa tivesse algum efeito sobre a criatura enquanto ela pulava por cima da semideusa. Caso a lança não ajudasse muito, a menina utilizaria de seu escudo para se defender, o usando para que pudesse bater na lombar do canino até que a dor insuportável surgisse em seu interior. Entretanto, se nenhuma das duas opções funcionasse ela teria de empurrar seu escudo contra ele para pelo menos defender seu rosto enquanto tentaria cegá-lo com a ponta invisível de sua lança.

AFINS:

- Ai meu Zeus! – O grito cortava sua garganta e escapava por entre os lábios involuntariamente, surpresa demais, descrente de que a lâmina havia perfurado a boca daquela criatura e encontrado um de seus olhos. O sangue canino manchava suas presas, escorrendo como água e indo até o chão, manchando-o com aquela substância escarlate e de aroma tão agradável quanto a vitória.

Todavia, o desespero do lobo desencadeara em consequências nada agradáveis para a prole de Melinoe, a qual possuía grande parte da lateral de seu corpo marcada pelo próprio sangue e pelos traços desferidos contra sua pele a partir das garras de seu oponente. A dor era aguda e praticamente insuportável, queimando ao ter o sangue e os cortes expostos à atmosfera terrestre. A lança fora esquecida e, as mãos dirigidas ao próprio corpo.

- Puta merda! – O corpo rendia-se ao peso e à dor, colidindo-se contra o chão do campo de batalha, assim como acontecia com seu oponente. Ambos contorciam-se de dor, contudo, a poça de sangue que se formava por sob o corpo do lobo era de fato pior do que os arranhões no corpo da herdeira dos espectros. Ela teria de agir enquanto a criatura estivesse vulnerável, pois aquela era a sua chance de acabar com tudo.

Tendo conhecimento do poder da sua arma de ataque, Margot ocultou seus olhos e concentrou-se, segurando a extensão da lança com firmeza e proferindo algumas palavras em reza para os deuses, solicitando a ajuda desses para que pudesse livrar o lobo da dor que este sentia e acabar com seu sofrimento de uma vez por todas.

Margot procurou utilizar suas forças restantes para se pôr de pé, tentando construir o equilíbrio que a permitiria estar em uma posição superior com relação a do lobo. Caso conseguisse ficar de pé, a menina seguraria firmemente no cabo de sua lança, a direcionando lentamente até o corpo caído do lobo, podendo atingir tanto o seu coração – caso estivesse deitado de costas para o chão -, ou até mesmo a sua coluna e medula espinal – caso estivesse de bruços. –

No entanto, se o seu plano falhasse, arriscaria em sua mira, lançando de onde estivesse a arma na direção dele, calculando a distância necessária e o local ideal para ser atingido, assim podendo causar a morte definitiva dele, afinal, nem mesmo uma criatura como aquela deveria sofrer tanto.

AFINS: